edição online: Público.PT
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18.05.2007
Esta manhã, dez museus de Lisboa devem ter acordado com vizinhança nova. E efémera. Dez protagonistas da street art portuguesa criaram graffiti, ilustração e stencil para assinalar o Dia Internacional dos Museus com uma experiência de contraste. As dez obras estão desde esta madrugada junto a museus como a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva e não ficarão por lá por muito tempo. O objectivo: levantar o debate sobre a rua como um museu e sobre o contraste (ou talvez não) da arte de rua e da arte consagrada pelas instituições. É a primeira edição do Red Bull Street Gallery , uma iniciativa que pretende ser "um evento credível e inovador de arte urbana" em Portugal, conforme descreve Miguel Silva, o responsável pela gestão de marketing cultural da marca. As mostras convencionais de arte urbana passam normalmente, explicou ao P2 , pelo convite a alguns artistas para pintar um mural e funcionam como uma demonstração.
A Street Gallery quer pôr a arte de rua do graffiti (pintura com spray), do paste-up (baseado em papel), dos stickers (autocolantes), da pintura e ilustração frente-a-frente com os objectos integrados nos museus. "Não há melhor data para levantar este debate do que o Dia dos Museus", diz Miguel Silva. Amanhã, os trabalhos, todos em base de papel de grandes dimensões e afixados nas zonas envolventes dos dez museus, serão retirados, para "preservar os espaços de intervenção" mas "alimentando o sonho de transformar as ruas em galerias de arte", como indica o comunicado da iniciativa. Uma espécie de "se não se pode vencê-los, justapõe-se-lhes".
A necessidade de gerar este confronto e este debate surge do contexto internacional, em que este tipo de arte é "sustentado, existe em museus e galerias" e em que os autores "não são vistos como artistas marginais, que só pintam à noite e fogem à polícia", acrescenta Miguel Silva. "Neste século XXI, o espaço urbano é, em si mesmo, o espaço museológico por excelência", postula Miguel Moore , director de arte da Street Gallery . As obras estão hoje junto ao Centro de Arte Moderna, à Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, à Fundação Vieira da Silva, ao Museu de Arte Antiga, ao Museu de Arte Popular, ao Museu de Arte Sacra, ao Museu da Marioneta, ao futuro Museu da Moda e Design e à Casa Museu Fundação Medeiros e Almeida.
A organização explica que não está propriamente preocupada com a criação de um circuito de visita às obras. "A própria linguagem (da arte de rua) passa pelo confronto pontual" com ela e por isso o que se busca é a espontaneidade.
Joana Amaral Cardoso
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